quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Os Reis da Pelada ou A Vida É Só Um Passeio de Elevador

Esta é a minha primeira matéria com história pessoal neste blog. Deve ser por causa do Dia das Crianças.
Nunca gostei muito de computador nem tenho habilidade com ele, sou um analfabyte, mas acabei, por influência dos meus filhos, fazendo um blog e um facebook.
Não adicionava ninguém. As pessoas me localizavam, pediam para serem adicionadas, mas as ignorava. Não tenho tempo. Trabalho muito, de 12 a 14 horas por dia. Tenho agenda cheia. Pensam até que sou rico, já que minha consulta não é barata, mas sou duro que nem um côco. Muita gente paga um valor simbólico e muitos atendo gratuitamente. Sou um pai muito presente e dedicado, faço atividade física diariamente, e ainda tenho vida pessoal. Logo, durmo de 4 a 5 horas por dia há anos. Minha filha Clarisse comentou que não conhece ninguém tão dedicado às coisas e às pessoas e  que ainda consiga ter uma vida pessoal como eu. Também não conheço. Portanto, não tenho tempo pra ficar no computador. O dia só tem 24 horas.
Há duas semanas atrás resolvi adicionar todo mundo que surgia. Surgiram então dois amigos que proporcionaram viagens fantásticas nas minhas lembranças.
Jomar, amigo desde a infância, e Nivaldo, mais para a adolescência.
Éramos os reis da pelada, eu e Jomar. Infelizmente ele era melhor. Sempre achei que se tivesse tido um empurrãozinho teria chegado à seleção brasileira. Foi o melhor peladeiro que já vi jogando nas ruas. O segundo melhor era eu. Certa vez vi uma declaração do Pelé de que em todas as vezes que jogou com Garrincha a seleção sempre ganhou. Conosco era a mesma coisa. Numa pelada, com nós dois juntos no mesmo time não tinha pra ninguém.
No campo do Larguinho(terra batida), no Gringo(terra batida), na Carlos Vasconcelos(asfalto), no Larguinho   mesmo(paralelepípedo), só dava a gente. Também achei que poderia chegar à seleção, mas quando fui treinar na escolinha do Flamengo o técnico Modesto Bria me deixou de fora durante todo o treino e depois me dispensou sem sequer ter entrado em campo. Disse: "no Flamengo você não vai jogar  nunca". Flamenguista doente me desiludi. Nunca mais tentei clube algum. Meu único consolo é que assistindo uma entrevista do Zico descobri que tinha ouvido a mesma frase do mesmo técnico. O Flamengo pode ter perdido um outro Zico.
Criamos um time de futebol de campo; o Aliança Futebol Clube(nome da vila onde morava). Pedíamos dinheiro na rua para o uniforme. Arrecadamos muita grana, Henrique Negão foi quem mais arrecadou, disparado. Nosso uniforme era a camisa igual a do São Paulo, mas o calção era preto. Não sei bem porque(nunca quis) mas o time me nomeou técnico e capitão. Acho que era por ser o mais ponderado.
Não tinha o mesmo desempenho no campo. Era muito franzino. Na rua só jogava descalço, no campo a chuteira pesava muito e era muito dura. E a bola parecia de madeira e pesava uma tonelada.
Hoje as chuteiras são fantásticas e a bola bem mais macia e leve.
As histórias são muitas, mas só vou contar algumas, afinal isto é um blog e não um livro.
Éramos da Tijuca, próximo a Sãens Peña e a turma era toda do bem. Não me lembro de ter visto nenhuma porrada entre nós. E a turma era grande.
Certa vez descia a Carlos Vasconcelos levando pão para o meu pai, vindo da praça, pois só havia padaria ali, cruzei com a galera que estava toda sentada no muro do Hall(um espaço do lado do rio que está exatamente igual até hoje), quando Henrique Negão me chamou e me esculachou geral. A galera ficou eufórica. Não sei se já estava combinado, se já sabiam o que ia acontecer. Fiquei furioso e amedrontado ao mesmo tempo. Era o dobro do meu tamanho e fama de maior porradeiro da rua, apesar de nunca tê-lo visto brigando. Pedi que me esperasse entregar o pão porque voltaria para enfrentá-lo. Todos riram, ninguém ousava enfrentar o Henrique, com exceção do Ivan, irmão do Tola, que era maior e mais forte, e os adultos, que também tinham medo dele.
Voltei sem saber direito o que fazer. Não tinha a menor chance. Ele veio na minha direção, a turma toda atrás(uns 8), ainda me esculachou mais um pouco, minha raiva era tanta que abafava até meu pavor. Quando chegou perto abriu os braços, deu um largo sorriso e disse me abraçando: "Cezar você é meu irmão, nunca vou brigar com você. É tudo brincadeira". Isso me fez subir no conceito da galera; era o único que tinha enfrentado o Henrique. Doce ironia, sem nunca ter brigado fiquei com fama de valente.
Uma outra história é que Quincas, irmão do Luís Pardal, e eu tínhamos a mania de andar de elevador. Invadíamos todos os prédios da Tijuca, enganávamos os porteiros, e ficávamos andando de elevador pra cima e pra baixo. Escolhíamos os prédios. Evitávamos repetir, não tinha graça. Adorávamos. Nunca vi brincadeira tão ingênua e tão divertida. Acho que nós que inventamos, mas não fizemos escola. Morreu com a gente.
A turma era pobre ou classe média baixa, mas quando o padeiro perdeu seu livro de registro alguém guardou com cuidado, tinha página solta, e o devolvemos. O padeiro de tão emocionado descobriu seu cesto e permitiu que cada um pegasse um pão doce. Todos agradeceram, mas ninguém pegou, ele era tão pobre quanto todos, portanto era da turma também.
Um episódio hilário foi com o Luís Pardal. Na Conde de Bonfim, em frente à minha vila, quando cortavam as árvores, amontoavam os galhos e as folhas em montanhas 2 metros de comprimento, 1 de largura e 1 de altura, até que o caminhão do lixo viesse retirar, o que demorava alguns dias. Fazíamos uma pequena caverna na montanha de galhos, um se escondia, a galera ficava perto e quando vinha uma gostosa avisávamos e quem estava escondido dava o susto. Era muito engraçado. Ríamos muito.
Um dia, quando o Luís Pardal estava escondido, vinha um PM. Dissemos que era uma gostosa e ele deu o susto. O PM tirou o cacetete, enfiou no meio dos galhos, o Pardal o segurou e começou a gritar "não moço, pelo amor de Deus, pensei que fosse uma mulher". A gente rolava de rir com o PM puxando o cacetete de um lado e o Pardal de outro.
 Essas histórias e outras mais,  o contato com Jomar me fez lembrar. O Nivaldo me lembrou histórias relacionadas a música. Houve uma época em que todos tocavam alguma coisa no violão. Essas eu conto depois.

Um comentário:

  1. Adorei a estória do pm! M
    eu filho, aqui do meu lado, riu muito também!!!!!! muito boa essa sua idéia de postar coisas pessoais. Vindo de vc, tinham que ser engraçadas...

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